Os ainus ostentam uma cultura e uma língua singulares. Até o século 19, viviam principalmente de caça, pesca, coleta de plantas e agricultura. Além disso, se ocupavam do comércio com regiões vizinhas, entre outras formas de intercâmbio.
Na Era Meiji, ainda no século 19, políticas públicas de assimilação ameaçavam o modo de viver dos ainus. Cidadãos “wajin”, pertencentes ao grupo étnico predominante nas ilhas japonesas, eram enviados em grande número para promover mudanças supervisionadas pela Comissão do Desenvolvimento de Hokkaido, que havia sido estabelecida pelo governo nacional.
A comissão proibiu inúmeras tradições dos nativos, como a captura de salmão, a caça com flechas envenenadas e tatuagens em mulheres adultas.
A promulgação da Lei de Proteção dos Ex-aborígines de Hokkaido, em 1899, imporia aos estudantes ainus a necessidade de aprender o idioma japonês. Hoje, o Atlas dos Idiomas Ameaçados de Extinção no Mundo, publicado pela Unesco, atribui risco crítico de desaparecimento à língua ainu.
Lugar de compartilhamento e aprendizado
O termo “upopoy” significa, no idioma ainu, cantar em grande grupo. No novo complexo, há também a reconstituição de uma aldeia tradicional “kotan” e um prédio para cerimônias de homenagem aos mortos.
O Museu Nacional Ainu é uma das principais atrações do complexo Upopoy. Composto de aproximadamente 10 mil peças, o seu acervo inclui instrumentos que os nativos usavam no dia a dia. As exibições são divididas em seis seções, cada uma com diferentes temas, como história e idioma. O público também pode assistir a filmes para aprimorar seus conhecimentos da cultura da etnia.
O antropólogo cultural Sasaki Shiro, diretor do museu, declarou à NHK:
“A maior importância dada hoje à cultura ainu pode ser indício da conscientização do Japão de que o país estaria em risco se não promovesse a diversidade cultural.”
Otimismo crescente entre jovens da etnia
Yamamichi Yomaru, de 31 anos, um ainu que trabalha no Upopoy, foi criado no distrito de Nibutani, da localidade de Biratori — uma das poucas áreas onde permanece viva a cultura da etnia. Por três anos, a partir de 2011, ele estudou o idioma dos ancestrais e técnicas do artesanato tradicional ainu. Hoje faz demonstrações de entalhe em madeira e compartilha seu know-how em uma oficina prática.
Embora aprecie o interesse crescente pela própria cultura, Yamamichi nota entre muitas pessoas a percepção equivocada de que os ainus ainda pratiquem a caça e vivam em habitações tradicionais com cobertura de sapé.
Para ele, é tudo uma questão de melhorar a compreensão da etnia:
“Queremos que o público perceba que a vida ainu não difere em nada da sua e que nos esforçamos para preservar uma cultura própria, orgulhosos das nossas raízes.”
Críticas ao modo como a história é retratada
Algumas pessoas veem com ressalvas o modo como o Upopoy descreve o tratamento dado à etnia. Emori Susumu, professor emérito da Universidade Tohoku Gakuin, da província de Miyagi, e especialista em história ainu, afirma que, embora estimule o interesse do público, o museu não explica adequadamente a política pública adotada no passado pelo governo japonês para a assimilação dos ainus.
Emori diz haver indivíduos ainus que ainda escondem suas raízes por receio de sofrer discriminação ou preconceito. Ele assinala:
“As exibições por si só podem não ajudar o público a compreender inteiramente por que ainus da atualidade não conseguem falar o idioma dos antepassados ou os motivos do desaparecimento das suas tradições.”
A própria etnia no comando
Uma assessora de relações-públicas explica que o complexo foi projetado para apresentar os ainus como protagonistas dos acontecimentos, não como povo desfavorecido.
Todas as exibições, já desde a fase de planejamento, refletem a visão dos ainus. Dá-se prioridade ao seu idioma em atividades de orientação e informação ao público. Contudo, a administração está a cargo principalmente de japoneses “wajin” que são enviados pelo governo nacional, incluindo o próprio diretor do museu, Sasaki Shiro.
Sasaki ressalta:
“O Upopoy foi projetado para atrair uma variedade de pessoas do mundo inteiro, de maneira a ampliar a compreensão da cultura ainu.”
O diretor do museu diz que pretende incumbir indivíduos ainus de definir o modo como será operado e administrado o complexo no futuro.