O vape, ou cigarro eletrônico, surgiu como uma alternativa supostamente mais segura ao tabagismo convencional, mas especialistas alertam que ele não é tão seguro quanto parece. Nesta matéria, exploraremos os perigos do vape para a saúde e às armadilhas desse hábito aparentemente inofensivo. Conversamos com o Dr. Luiz Augusto Maltoni, diretor executivo da Fundação do Câncer, que compartilhou informações valiosas sobre os riscos e os esforços de regulamentação.
O dispositivo foi inventado em 2003 pelo farmacêutico chinês Hon Lik, que procurava uma alternativa menos prejudicial ao tabaco tradicional. Inspirado em um dispositivo de vaporização que ele utilizava para administrar medicamentos, Hon Lik criou o primeiro cigarro eletrônico comercialmente viável.
Após sua invenção, o vape rapidamente ganhou popularidade na China e em outros países asiáticos. No entanto, foi nos Estados Unidos e na Europa, por volta de 2007, que a tendência realmente decolou. Atraídos pela promessa de fumar sem os efeitos nocivos do tabaco tradicional, muitos fumantes migraram para o vape como uma alternativa de redução de danos.
A crescente popularidade do vape também trouxe consigo controvérsias e preocupações de saúde. Em diversos países, a falta de regulamentação inicial levou à comercialização para menores de idade, causando alarme entre pais e autoridades.
Em meados de 2019, o mundo testemunhou diversos casos de lesões pulmonares associadas ao uso de dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs). Milhares de pessoas foram hospitalizadas, e centenas morreram, levantando questões sobre a segurança dos produtos de vape e dos líquidos utilizados. Investigadores apontaram a presença de substâncias tóxicas e adulteradas em alguns produtos como uma das causas dos casos.
Ainda em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um relatório enfatizando a importância da regulamentação dos Sistemas Eletrônicos de Administração de Nicotina (SEAN), como os cigarros eletrônicos. Além disso, o relatório refutou a ideia de que o uso de cigarros eletrônicos seria benéfico para tabagistas que desejam parar de fumar. Em muitos países onde esses dispositivos estão disponíveis, a maioria dos usuários continua a fumar cigarros convencionais simultaneamente, o que não resulta em um impacto benéfico significativo para a saúde.
Diante das preocupações de saúde e da crescente popularidade do vape entre os jovens, muitos governos ao redor do mundo tomaram medidas para regulamentar o mercado e restringir o acesso aos cigarros eletrônicos. Restrições à publicidade, proibição de sabores atrativos e limitações de venda tornaram-se comuns em diversos países.
No Brasil, há mais de dez anos, a comercialização, importação e propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar, incluindo o cigarro eletrônico, estão proibidas, de acordo com a Resolução nº 46, de 28 de agosto de 2009, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A normativa é enfática ao estabelecer a proibição de qualquer dispositivo eletrônico que alegue substituir cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos ou similares no hábito de fumar, bem como aqueles que se proponham a ser uma alternativa no tratamento do tabagismo.
Apesar das polêmicas e proibições, a indústria do vape não ficou estagnada. Houve uma contínua evolução dos dispositivos, com novas tecnologias e materiais. Além disso, a diversidade de sabores e compostos líquidos também cresceu, ampliando o mercado para além dos fumantes que desejam parar de fumar, atraindo principalmente jovens.
De acordo com o Dr. Maltoni, os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) não são seguros e possuem substâncias tóxicas além da nicotina. Sendo assim, o cigarro eletrônico pode causar doenças respiratórias, como o enfisema pulmonar, a EVALI (do inglês E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury) e doenças cardiovasculares, dermatite e câncer. Além disso, estudos mostram que os níveis de toxicidade podem ser tão prejudiciais quanto os do cigarro tradicional, já que combinam substâncias tóxicas com outras que muitas vezes apenas mascaram os efeitos danosos.
Dr. Maltoni: O VAPE, é o que a gente chama de cigarro eletrônico, vaporizador, enfim, é ao longo desses últimos anos foram vários modelos sendo criados. Na realidade, é um dispositivo eletrônico que contém, é um dispositivo ou uma área que que se coloca um líquido que vai ser inalado, ele tem uma área que a bateria propriamente dita, que provoca o aquecimento desse líquido e a produção então, do vapor e o bocal, onde você então vai fazer inalação e fumar o cigarro eletrônico. Basicamente assim, existem vários modelos, várias formas, de se ter esses líquidos, alguns são fixos, outros podem ser recolocados, recambiáveis, enfim, mas basicamente, isso é o resumo do que é o cigarro eletrônico.
Dr. Maltoni: Os principais riscos da saúde são aqueles, é que nós conhecemos desde serem fatores de risco importantes, como os outros cigarros ao longo tempo sobre o sistema cardiopulmonar, principalmente mais vascular e outros tantos. Ele provoca uma dependência importante, porque não raro os cigarros eletrônicos, tem é um concentração de nicotina mais alta do que o cigarro convencional e, portanto, provoca uma dependência rápida. E por isso tem sido o foco da população mais jovem, adolescentes, exatamente para torná-los viciados, né? Então, o risco é do vício e das decorrências das substâncias que contêm é o cigarro eletrônico, que são substâncias tóxicas e são substâncias cancerígenas também.
Dr. Maltoni: Você pode ter desde processos alérgicos, desencadeamento de asma, de tosse, enfim. Você aumenta quando fuma não só o convencional, mas também os cigarros eletrônicos, aumenta a frequência cardíaca, alteração da Pressão Arterial. Enfim, ao longo do tempo, você pode ter alterações da pele, o envelhecimento mais precoce da pele. Enfim, esses são alguns efeitos adversos importantes, né? Para a gente conhecer como exemplo.
Dr. Maltoni: Eu diria que todo grupo populacional, todas as idades, são vulneráveis ao uso do cigarro, especialmente do cigarro eletrônico. Porém, hoje eu chamaria a atenção para a vulnerabilidade dos jovens e adolescentes, sem querer deixar de mencionar as crianças, é claro. Existe uma propaganda subliminar de que isso não faz mal à saúde, que o vaporizador pode até mesmo ajudar as pessoas a pararem de fumar, o que é uma inverdade. Não existe nenhuma publicação científica séria que demonstre a eficácia desse método como meio de cessação do tabagismo. É fundamental que trabalhemos principalmente para sensibilizar e evitar que a população mais jovem caia nesse vício.
Dr. Maltoni: Existem semelhanças e diferenças entre o uso do vape e do cigarro convencional. O cigarro convencional queima por combustão, enquanto o cigarro eletrônico utiliza uma bateria elétrica, o que resulta em temperaturas diferentes entre os dois. Ambos os métodos de consumo produzem substâncias tóxicas, embora algumas delas possam ser um pouco diferentes. No caso do cigarro eletrônico, há uma concentração mais alta de substâncias pesadas, como cobre e zinco, por exemplo.
No entanto, é importante destacar que o cigarro eletrônico pode criar uma falsa sensação de segurança, pois não envolve a queima da combustão convencional e produz vapor com diferentes sabores e substâncias adicionadas. Essa sensação pode levar as pessoas a acreditarem que o vape não faz mal à saúde, mas na realidade, a inalação dessas substâncias pode causar alterações importantes no organismo humano e ser muito prejudicial. Tanto o vape quanto o tabagismo convencional são prejudiciais à saúde humana e devem ser evitados para prevenir uma série de doenças.
Dr. Maltoni: Os riscos à saúde do uso de vape são semelhantes aos do tabagismo convencional e, em alguns casos, podem até ser maiores. Como já mencionei, o cigarro eletrônico muitas vezes contém uma concentração maior de nicotina do que o cigarro convencional, o que leva a uma dependência mais rápida. Ambos os produtos contêm substâncias tóxicas e cancerígenas, representando perigos significativos para a saúde a médio e longo prazo.
É importante ressaltar que os riscos à saúde não se limitam ao curto prazo, mas também podem se manifestar ao longo do tempo devido à exposição contínua a essas substâncias nocivas. Portanto, não há uma vantagem em termos de menor risco ao optar pelo uso de cigarro eletrônico em vez do cigarro convencional. Qualquer forma de tabaco, incluindo o vape, deve ser evitada para proteger a saúde e prevenir doenças relacionadas ao tabagismo. É fundamental conscientizar as pessoas sobre os perigos e evitar a divulgação falsa de que o cigarro eletrônico é uma alternativa segura.
Dr. Maltoni: A utilização do cigarro eletrônico ou do cigarro convencional afeta negativamente o sistema respiratório e cardiovascular. A fumaça do cigarro eletrônico é um irritante para a mucosa que reveste toda a árvore respiratória, causando danos à saúde pulmonar. Além disso, a fumaça também possui uma ação direta no endotélio dos vasos sanguíneos, que é a camada que recobre o interior dos vasos e tem contato direto com o sangue. Essa ação inflamatória e imunológica desencadeada pela exposição à fumaça do cigarro eletrônico pode levar a uma série de problemas de saúde a longo prazo.
Entre as doenças relacionadas, destacam-se as doenças pulmonares obstrutivas crônicas e as doenças cardiovasculares, com uma predisposição maior a eventos como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico e obstruções arteriais agudas nos membros. Esses efeitos secundários são resultantes do uso contínuo do cigarro eletrônico, assim como do cigarro convencional. Ambas as formas de tabagismo podem causar danos significativos ao sistema respiratório e cardiovascular, aumentando o risco de doenças graves e crônicas ao longo do tempo.
Dr. Maltoni: Os principais problemas de saúde relacionados ao uso de vapes (cigarros eletrônicos) são diversos e afetam principalmente o sistema respiratório e cardiovascular. Entre eles, destacam-se condições como asma, DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), tosse persistente e processos inflamatórios nos pulmões. Um problema grave associado ao uso de vapes é a síndrome chamada de EVALI (Injury Associated with Vaping or Vaping-Associated Lung Injury). Trata-se de um processo inflamatório agudo dos pulmões decorrente do uso do cigarro eletrônico, que foi inicialmente observado nos Estados Unidos. Essa condição pode levar a um quadro severo de inflamação dos pulmões, resultando em internações em unidades de terapia intensiva (UTI) e complicações extremamente graves para os pacientes, incluindo dificuldades respiratórias e dores intensas.
Além disso, foram relatados inúmeros casos de explosão de dispositivos eletrônicos utilizados para vapear. Esses dispositivos podem explodir enquanto estão sendo usados ou mesmo quando estão guardados no bolso, causando queimaduras e danos graves, como lesões nos lábios, boca e bochechas, além de outras partes do corpo em contato com o dispositivo.
Dr. Maltoni: O grande problema da exposição à nicotina é que ela é a substância responsável por causar dependência. Essa dependência é um grande perigo, especialmente quando se trata do uso de vapes, pois o cigarro eletrônico se torna uma porta de entrada para a dependência. A exposição contínua à nicotina não apenas causa dependência ao dispositivo eletrônico em si, mas também pode levar ao consumo do cigarro convencional. Portanto, o perigo está especialmente relacionado à presença da nicotina, uma vez que ela é a substância que desencadeia a dependência.
Dr. Maltoni: Isso ocorreu porque a indústria do tabaco os manipulou de uma forma muito inteligente, por assim dizer. Esses dispositivos foram projetados para transmitir um aspecto de modernidade e tecnologia. Muitos deles têm a aparência de pendrives, canetas e outros objetos cotidianos, não lembrando em nada um cigarro tradicional. O cigarro eletrônico, desde suas primeiras versões, apresenta-se como um dispositivo eletrônico, o que chama a atenção dos jovens, criando uma impressão de modernidade e inovação.
No entanto, essa popularidade é, na verdade, um atrativo extremamente perigoso, especialmente para os jovens, que são mais vulneráveis e podem acabar se tornando dependentes desses dispositivos. A indústria do tabaco tem utilizado estratégias para atrair os mais jovens, e isso é preocupante, pois pode levar a uma maior adesão ao uso dos vapes e, consequentemente, a problemas de saúde associados ao consumo de nicotina e outras substâncias tóxicas presentes nos dispositivos eletrônicos.
Dr. Maltoni: As regulamentações existentes ou propostas para o uso dos vapes são muito claras no Brasil. A regulamentação atual proíbe a venda, propaganda e distribuição desses dispositivos no país, de acordo com a definição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde o ano de 2019. Apesar das pressões da indústria do tabaco, a proibição continua em vigor. Essa é uma medida importante para regulamentar o uso não apenas do cigarro eletrônico, mas também de outras formas de cigarro. Ampliar essa regulamentação para abranger todas as formas de cigarro é fundamental para contribuir, ajudar e dar acesso aos dependentes que precisam de tratamento e apoio para se livrarem desse problema de saúde. O objetivo é proteger a população dos perigos do tabagismo e promover uma melhor qualidade de vida para todos.
Dr. Maltoni: O Brasil é um exemplo de país que conseguiu implementar boa parte, ou quase a totalidade, das propostas do Ministério da Saúde para uma política de controle do tabagismo. Podemos nos orgulhar do programa de controle do tabagismo, que reduziu significativamente a prevalência de fumantes em nossa população. Contudo, estamos ameaçados com a questão do cigarro eletrônico, que tem sido utilizado por jovens, mesmo com a proibição. Vemos isso acontecendo nas ruas e nas escolas. Nossa preocupação é que as instituições, as áreas médicas e os órgãos reguladores, incluindo a Anvisa, permaneçam firmes em manter a proibição do cigarro eletrônico, como tem sido até agora.
Dr. Maltoni: Algumas dicas práticas para as pessoas que desejam abandonar o uso do cigarro eletrônico ou do cigarro convencional são: em primeiro lugar, ter consciência de que ambos fazem muito mal à saúde. É importante compreender que fumar um vape muitas vezes significa inalar uma quantidade de substâncias muito maior do que em um maço de cigarros convencionais. Portanto, é fundamental ter essa consciência dos riscos envolvidos nesse hábito e buscar ajuda para parar de fumar.
No entanto, a dependência do tabaco não é algo simples de ser superado. Muitas pessoas que param de fumar acabam voltando ao hábito devido aos efeitos da síndrome de abstinência e outros efeitos no organismo. Mas hoje em dia, existem técnicas e recursos disponíveis para auxiliar na cessação do tabagismo.
Além das substâncias que substituem gradualmente a nicotina, como os patches ou adesivos, gomas de mascar, entre outros, há também medicamentos que podem ajudar nesse processo. Uma opção é entrar em contato com o Disque Saúde, um serviço que pode ser acessado em todo o Brasil. Eles podem fornecer informações sobre locais e recursos disponíveis para ajudar na parada de fumar. É importante buscar o apoio adequado para aumentar as chances de sucesso ao abandonar o uso do cigarro.
Dr. Maltoni: É essencial ressaltar que, para orientar a cessação do tabagismo em todo o Brasil, todas as secretarias de saúde têm grupos e áreas dedicadas a ajudar as pessoas que desejam parar de fumar. Portanto, existem programas de cessação de tabagismo em diversos estados e em muitas cidades do país. É crucial conscientizar-se de que tanto o cigarro convencional quanto o eletrônico (ou vape) são prejudiciais à saúde.
O Brasil possui uma estrutura preparada para auxiliar aqueles que desejam parar de fumar. Há recursos, apoio e profissionais de saúde disponíveis para ajudar as pessoas a alcançarem esse objetivo. É possível superar a dependência do tabaco e buscar uma vida mais saudável e livre desse hábito nocivo. Com a determinação e a ajuda adequada, é viável alcançar o objetivo de cessar o uso do cigarro e desfrutar dos benefícios para a saúde que essa decisão traz.
*Se você quer parar de fumar, saiba que o Ministério da Saúde possui ações voltadas para a promoção da saúde, com o objetivo de reduzir o número de fumantes e o consumo de tabaco. Uma das principais estratégias é o Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT), que oferece tratamento completo e gratuito para quem deseja se livrar desse hábito prejudicial à saúde.
Para obter informações mais detalhadas sobre como participar do programa, você pode entrar em contato com a coordenação de controle do tabagismo da sua secretaria estadual ou municipal de saúde. Além disso, a Unidade Básica de Saúde mais próxima também pode fornecer orientações e suporte nessa jornada rumo a uma vida livre do tabaco. Não deixe de buscar ajuda e cuidar da sua saúde, pois parar de fumar é um passo importante para uma vida mais saudável e feliz.
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