No post anterior sobre o Kimchi, iniciamos nossa série de descobertas gastronômicas pelos pratos considerados Símbolos Nacionais de alguns países da Ásia.
Só uma palavra surge em nossas mentes quando pensamos em comida tailandesa. Nas ruas de Bangkok, o Pad Thai está por todos os lados e entre estrangeiros é o único prato amplamente conhecido.
Pad thai, ou phad thai, é um prato de macarrão de arroz frito comumente servido como comida de rua e na maioria dos restaurantes da Tailândia como parte da culinária do país. Geralmente é feito com macarrão de arroz, frango, carne ou tofu, amendoim, ovo mexido e broto de feijão, entre outros vegetais.
Suas variações são incontáveis: pode vir com uma folha de banana ao lado, com um ovo cobrindo todo o prato, pode ser mais doce ou mais ácido, mais picante ou suave. Há versões vegetarianas, com camarões frescos ou secos ou acompanhadas de brotos de feijão. Mas, em geral, é a proporção de molhos de tamarindo e peixe que dão um sabor especial para cada receita, guardada, muitas vezes, como um segredo.
Esse prato se tornou tradicional na Tailândia durante a Segunda Guerra Mundial, se tornando, desde então, um dos pratos nacionais do país, ou como o filho de Phibun chamou: “Primeiro fast-food da Tailândia”. Hoje em dia, alguns vendedores adicionam carne de porco ou frango; outros mantêm a receita original.
Em uma cultura em que o arroz é o carro-chefe, é no mínimo curioso que um prato cuja base seja macarrão frito tenha alcançado o posto de comida nacional. Isso porque tanto a matéria prima (os noodles) quanto a técnica chegaram na Tailândia a 250 anos, junto com os imigrantes chineses.
E não apenas isso, mesmo entre os principais ingredientes que incrementam o prato – o tofu e o camarão seco, por exemplo -, nenhum é original dali. Pode parecer irônico, mas o maior ícone da rica gastronomia tailandesa é, na verdade, bastante chinês. E até mesmo seu nome completo é uma evidência disso: kway teow pad Thai quer dizer “noodles fritos em estilo tailandês” e kway teow é uma expressão chinesa para macarrão de arroz.
Mas, sejamos justos. Se os imigrantes levaram os ingredientes, os tailandeses tomaram a frente na hora do preparo. São os temperos e molhos usados por eles – esses sim muito presentes na culinária local – que conferem ao Pad Thai o contraste de sabores e texturas presentes em qualquer prato típico da Tailândia. E é justamente a fusão das duas culturas que torna o Pad Thai tão único.
A popularidade do Pad Thai, no entanto, não se espalhou pelo país apenas por uma questão de paladar. Assim como muitos outros pratos da comida tailandesa, ele foi imposto de cima para baixo. No passado, era tradição que qualquer novo ingrediente ou prato que chegasse à Tailândia precisasse ser aprovado pelo rei antes de se disseminar para a população. E, caso ele gostasse, ele mesmo se tratava de distribuir a novidade entre o povo.
Algo parecido ocorreu com o Pad Thai. O prato é considerado a primeira receita a ser padronizada na cozinha tailandesa. Isso porque, em 1938, após mudar o nome do reino de Sião para Tailândia, o Primeiro Ministro Plaek Phibun Songkhram (Phibun, para os íntimos) resolveu redesenhar a cultura do país por decreto. Seis anos antes, ele havia sido um dos principais responsáveis pela revolução que tirou os poderes absolutistas das mãos da monarquia e a Tailândia agora tinha uma constituição na qual se apoiar.
Na liderança de um povo com extrema diversidade étnica e fortes identidades regionais, Phibun, inspirado por governos fascistas da Europa, resolveu que era preciso unificar o reino e criar uma uma identidade nacional forte e moderna, longe do provincianismo das tribos. Para isso, ele empreendeu uma busca por algo que pudesse ser considerado um prato nacional.
Naquela época, a cultura do arroz reinava absoluta, mas é bem provável que diferentes versões de noodles frito já fossem preparadas aqui e ali desde que os chineses chegaram com os ingredientes, ainda que de formas muito diferentes da que conhecemos hoje. Não se sabe ao certo como o ministro chegou ao Pad Thai. Algumas fontes sugerem um concurso gastronômico.
O fato é que o prato foi o eleito e a difusão do Pad Thai se tornou política de Estado. Para isso, o governo distribuiu um a receita padrão, com uma forte propaganda nacionalista por trás, e encorajou comerciantes a prepararem e venderem o prato nos típicos carrinhos de rua que ainda enxameiam Bangkok. Com o slogan “noodles é o seu almoço” e ambulantes a cada esquina, o Pad Thai acabou se tornando uma comida de conveniência, o primeiro fast food do país.
A criação do Pad Thai foi apenas uma das estratégias – e talvez a mais branda – da reformulação cultural de Phibun. Na mesma época, ele reformou e padronizou a língua Thai, banindo outros idiomas e dialetos das escolas; fechou as cortes islâmicas; perseguiu culturalmente a minoria malaia e exigiu lugares para pessoas etnicamente tailandesas em indústrias dominadas por chineses. Ele também chegou a fazer discursos pedindo que as pessoas parassem de usar os trajes tradicionais do país e adotassem a moda europeia.
Desde uma perspectiva histórica, é curioso pensar que um prato considerado tradicional seja uma imposição política criada há apenas algumas décadas. Tanto que cabe a pergunta: diante desse contexto, ainda é possível considerar o Pad Thai como o prato mais representativo da gastronomia tailandesa?
A julgar pela quantidade de vendedores ambulantes que até hoje preparam a receita nas ruas e mercados de todo o país, na fila que se forma todos os dias do lado de fora do pequeno restaurante que vende o melhor Pad Thai de Bangkok e nos mais de 11 mil restaurantes que promovem a culinária local fora da Tailândia e têm no prato seu carro-chefe, eu diria que sim.
Afinal, a culinária de um lugar sempre se transforma de acordo com lutas diárias, pela disponibilidade – ou privação – de certos ingredientes e políticas diversas que impactam no prato de uma nação. Tem muito mais a ver com as necessidades, com “o que tem pra hoje” que com a nossa busca obcecada por uma pureza não raramente forjada para atrair a atenção dos turistas. Aquilo que chamamos “comida típica” quase sempre nasce das circunstâncias impostas a um povo. Na Tailândia não foi diferente.
Nível de dificuldade: Médio
Cozinha: Tailandesa
Tempo de preparo: 20 minutos
Tempo de cozimento: 20 minutos
Pronto em: 40 minutos
Rendimento: 2 porções
É um prato prático, saboroso e nutritivo, que conquistou e continua conquistando uma legião de fãs ao redor do mundo.
Óleo de cozinha – 4 colheres de sopa
Alho – 3 dentes de alho
Macarrão de arroz – 200g
Camarão fresco – 6 unidades médias
Tofu Firme – 1/2 copo (8 colheres de sopa)
Ovos – 2 unidades
Camarão seco – 1/4 xícara (4 colheres de sopa)
Broto de feijão – 1 copo (16 colheres de sopa)
Cebolinha – 1/2 copo (8 colheres de sopa)
Amendoim moído – 1/4 xícara (4 colheres de sopa)
Pimenta calabresa – 1 colher de chá
Água – 1/4 xícara (4 colheres de sopa)
Molho de tamarindo – 1/4 xícara (4 colheres de sopa)
Molho de peixe (Caso não encontre, o mesmo pode ser feito em casa) – 1/4 xícara (4 colheres de sopa)
Açúcar de Palma (Caso não encontre, pode ser substituído por açúcar mascavo) – 1/4 xícara (4 colheres de sopa)
1) Mergulhe o macarrão em água morna cerca de 15-20 minutos ou até ficar macio.
2) Pique o alho em pedaços pequenos.
3) Corte o tofu em cubos pequenos.
4) Corte a cebolinha em tiras de “peças longas”.
5) Quebre os amendoins torrados.
1) Ligue o fogão em fogo médio.
2) Aqueça a panela e adicione o molho de tamarindo, molho de peixe e açúcar de palma. Mexa até o açúcar se dissolver.
3) Quando o molho começar a ferver, retire do fogo e reserve.
1) Ligue o fogão alto e coloque a sua wok.
2) Adicione o óleo.
3) Quando estiver quente, adicione o alho.
4) Frite o alho cerca de 1 min (cor entre o amarelo ou marrom).
5) Adicione o Tofu e mexa.
6) Adicionar camarão seco. (opcional)
7) Agite durante cerca de 30 segundos.
8) Adicionar Camarão fresco.
9) Mexa até o camarão ficar rosa e cozido.
10) Quando cozinhar, reduza o fogo para médio.
11) Adicione o macarrão e mexa tudo.
12) Adicione a água.
13) Adicione o molho reservado, mexa até que o macarrão esteja macio (+/- 2 minutos).
14) Adicione os ovos e mexa até cozinhar (+/- 30 segundos).
15) Adicione o amendoim moído.
16) Adicionar broto de feijão e cebolinha.
17) Agitar tudo junto por cerca de 1 min e, em seguida, Pronto!
Sirva com cebolinha, limão, amendoim moído e pimenta ao lado, para que as pessoas possam saborear aos seus gostos.
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