A recente inclusão do termo “dorama“ pela Academia Brasileira de Letras (ABL) na língua portuguesa desencadeou controvérsias. A definição apresentada pela ABL, compartilhada em uma postagem no Instagram, identifica “dorama” como uma “obra audiovisual de ficção em formato de série, produzida no leste e sudeste da Ásia, de gêneros e temas diversos, em geral com elenco local e no idioma do país de origem”.
A reação veio tanto de pesquisadores quanto da Associação Brasileira dos Coreanos. Um manifesto, assinado por professores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal Fluminense (UFF), foi divulgado pela associação na sexta-feira, 27, condenando a definição da ABL. Segundo os signatários, a definição é preconceituosa e generaliza as produções asiáticas, já que “dorama”, sendo um termo de origem japonesa, não deveria ser usado como um termo guarda-chuva para séries de outros países asiáticos.
Augusto Kwon, presidente da associação, comparou a generalização feita pela ABL à confusão entre diferentes culinárias nordestinas, ressaltando que cada produção tem suas características e peculiaridades.
No manifesto, Daniela Mazur, pesquisadora do MidiÁsia na UFF, e Yun Jung Im, professora e coordenadora da graduação em Letras – Coreano da USP, elucidaram que o uso do termo “dorama” generaliza e apaga as distintas indústrias midiáticas asiáticas, reforçando estereótipos e orientalismo. Elas argumentaram que chamar um drama sul-coreano, ou k-drama, de “dorama” é uma forma de estereotipar um consumo e ativar estruturas históricas de raízes imperialistas.
A publicação no Instagram da ABL gerou um debate fervoroso entre os fãs de dramas coreanos, acumulando mais de 12 mil curtidas e 700 comentários, um engajamento consideravelmente maior quando comparado a outras postagens do perfil da ABL.
Ricardo Cavaliere, membro da comissão de lexicografia da ABL, defendeu a definição em entrevista ao jornal Estadão, destacando que a inclusão de “dorama” no léxico português foi um reflexo do uso generalizado do termo no Brasil para se referir a séries tanto japonesas quanto de outros países asiáticos. Ele ressaltou que a ABL se baseia no uso real da palavra em contextos reais em português para a produção lexicográfica.
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