Em julho, os artistas sul-coreanos Gun-E e Gson lançaram o álbum “Rio”, um projeto com nove faixas criadas durante a turnê que fizeram no Brasil. O disco é uma declaração de amor ao país, às pessoas, à comida, às paisagens e a tudo o que eles viveram aqui. É também um exemplo claro de como a cultura brasileira vem conquistando espaço e corações na Coreia do Sul, inspirando novas sonoridades e formas de expressão no K-hip-hop.
Gun-E, conhecido por sua voz marcante e letras sinceras, já havia dito que se sentia em dívida com o Brasil. Foi aqui que ele viu sua música ganhar força, que encontrou apoio mesmo ainda não sendo reconhecido no próprio país. Gson, por sua vez, também participou da turnê “Dear Summer Tour in Brazil” e compartilhou com Gun-E a criação do álbum, que tem participações de artistas como Lowell Straight, Fong Sebas, odjhow e NOIDEACHILD.
As músicas misturam ritmos como o funk brasileiro, o reggaeton latino e a base do rap coreano. Em vez de apenas copiar um estilo ou pegar um som que está na moda, os artistas mergulharam na experiência real: beberam guaraná, provaram cachaça, comeram churrasco, ouviram sons brasileiros, entenderam a batida das ruas e transformaram tudo isso em música.
“Rio” tem faixas com nomes em português, batidas que lembram o funk carioca e refrões que poderiam tocar tanto numa festa em Seul quanto num baile no Brasil. É uma mistura que soa nova mesmo para quem já ouve hip-hop há tempos. Ao mesmo tempo, é natural, não parece forçado e vem da vivência e do respeito pela nossa cultura.
O álbum também conversa com um movimento maior: o Brazilcore. Nascido como um resgate das cores da bandeira brasileira, o Brazilcore virou uma tendência global. Surgiu como resposta à apropriação política do verde e amarelo, mas cresceu para além disso. Celebridades como Hailey Bieber, Madonna e até idols do K-pop começaram a vestir as cores com orgulho. Na Coreia do Sul, isso se espalhou: de vídeos no TikTok a videoclipes, o estilo brasileiro virou moda, virou cultura e agora inspira movimentos culturais do outro lado do mundo.
Gun-E e Gson fazem parte desse movimento, mas de um jeito mais profundo. Eles não só usaram roupas ou estéticas brasileiras. Eles viveram o Brasil. Estiveram aqui, encontraram fãs, subiram ao palco, criaram memórias. E agora, de volta à Coreia, continuam carregando isso nas letras, nas batidas e até nas entrevistas, onde falam com brilho nos olhos sobre o carinho que sentem pelo país.
O resultado é um álbum que fala sobre conexão. Não é só sobre a cidade do Rio de Janeiro, mas sobre o sentimento de estar em um lugar novo e se sentir em casa. Sobre como a música pode cruzar fronteiras e criar pontes entre culturas tão diferentes. E sobre como artistas independentes, com pouca estrutura, podem fazer coisas incríveis quando se entregam de verdade ao que vivem.
“Rio” é a prova de que o k-hip-hop está mudando, que a América Latina está no radar e que o Brasil tem muito mais a oferecer do que se costuma mostrar. Gun-E, Gson e seus parceiros estão abrindo caminho, com respeito, talento e muito guaraná na bagagem.
Disponível nas plataformas digitais, “Rio” é um convite para dançar, sentir e, acima de tudo, viver com o coração o trabalho de artistas sul-coreanos independentes. Afinal, quando a música nasce de uma vivência verdadeira, ela fala uma língua que todo mundo entende.
Confira agora mesmo o videoclipe de ‘Dear’:
Fonte e fotos: Gun-E & Gson
Dani Almeida é jornalista (MTB 0095360/SP) e estudou Ciências Sociais na UNIFESP. Atua como editora no Portal Asia ON e na Tune Wav, é colunista no Portal IT Life e redatora.
