Arquiteto chinês Kongjian Yu morre em queda de avião no Pantanal

Reconhecido pelo conceito de “cidades-esponja”, ele estava no Brasil para a Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo

O arquiteto chinês Kongjian Yu, de 62 anos, morreu na noite de terça-feira (23) em um acidente aéreo no Pantanal, em Mato Grosso do Sul. O avião de pequeno porte caiu em área rural de Aquidauana, próximo à Fazenda Barra Mansa, e explodiu ao atingir o solo, de acordo com a Polícia Civil.

Além dele, também morreram o piloto Marcelo Pereira de Barros, o documentarista Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz e o diretor de fotografia Rubens Crispim Jr.. O grupo estava no Brasil para a gravação de um documentário sobre o Pantanal e, portanto, percorria a região em missão profissional. Os corpos foram encontrados carbonizados e, por essa razão, a identificação oficial está sendo feita por meio de exame de DNA. Além disso, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) informou que o piloto não tinha autorização para realizar voos, o que será apurado durante as investigações.

A aeronave decolou por volta das 18h de terça-feira e caiu instantes depois. Assim, a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, em conjunto com o Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco), abriu inquérito para investigar as circunstâncias do acidente.

A trajetória de Kongjian Yu

Kongjian Yu nasceu em 1963, na China, e ao longo de sua carreira tornou-se uma das maiores referências internacionais da arquitetura paisagista e do urbanismo sustentável. Foi professor da Universidade de Pequim e, além disso, atuou como conselheiro do governo chinês e colaborador em projetos da ONU.

Ele fundou o estúdio Turenscape, responsável por projetos de grande escala em várias cidades chinesas e também em outros países. Ao longo de sua vida acadêmica e profissional, publicou mais de 20 livros e centenas de artigos científicos, o que consolidou sua influência no campo do urbanismo.

O conceito de “cidades-esponja”

A marca mais reconhecida de sua trajetória foi a criação do conceito de “cidades-esponja” (sponge cities), desenvolvido no início dos anos 2000. A proposta surgiu como resposta ao avanço das enchentes nas áreas urbanas, problema agravado pelas mudanças climáticas e pela impermeabilização do solo.

Na prática, o modelo prevê que cidades sejam planejadas ou adaptadas para absorver, armazenar e reutilizar a água da chuva. Desse modo, parques alagáveis, telhados verdes, canais de infiltração e sistemas de retenção natural passam a integrar o espaço urbano. O objetivo é reduzir alagamentos, evitar a sobrecarga em sistemas de drenagem e, ao mesmo tempo, garantir o reaproveitamento sustentável da água.

O conceito ganhou força em 2015, quando o governo chinês implementou o programa nacional de cidades-esponja, envolvendo mais de 30 municípios. Desde então, a ideia vem sendo estudada e replicada em diferentes países como referência internacional em adaptação urbana às mudanças climáticas.

Agenda no Brasil

A visita de Kongjian Yu ao Brasil fazia parte de uma série de compromissos institucionais em setembro de 2025. Ele participou da 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, evento que reuniu nomes de destaque do setor, e também esteve em Brasília para conferências organizadas pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU).

Seu interesse pelo país incluía a troca de experiências sobre preservação ambiental e planejamento urbano sustentável. Além disso, em especial no caso do Pantanal, buscava observar de perto áreas de risco climático e biodiversidade sensível. Seu conceito de cidades-esponja, que desde 2015 já foi incorporado a programas oficiais na China, passou também a orientar projetos urbanos em outros países. No Brasil, portanto, sua presença reforçava a conexão entre práticas sustentáveis de urbanismo e a necessidade de preservar regiões vulneráveis.

Fontes: (1) (2) (3) | Fotos: Turenscape

Editora-Chefe at  | daniele.almeida@asiaon.com.br | Website |  + posts

Dani Almeida é jornalista (MTB 0095360/SP) e estudou Ciências Sociais na UNIFESP. Atua como editora no Portal Asia ON e na Tune Wav, é colunista no Portal IT Life e redatora.

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