brb. prova que corações partidos também dançam em ‘the blueprint’

Analisando o novo álbum do grupo, ‘the blueprint’ se revela como uma obra sofisticada sobre desejo, perdas e a complexidade dos relacionamentos atuais.

Todas as vezes que quero ficar feliz coloco as músicas do brb. para tocar. Pra quem não conhece, brb. é um trio de Singapura, formado por Clarence Liew, Auzaie Zie e Marc Lian, que toca indie pop. As músicas são animadas, com uma pegada meio eletrônica, mas com vocais melódicos e um instrumental leve que combina super com a vibe dançante deles.

Já falei várias vezes aqui do grupo, porque desde o dia que eu encontrei eles, sem querer passeando pelo Spotify no começo de 2022, que eles se tornaram o meu grupo favorito do mundo. Eu simplesmente amo todas as músicas deles e os vocais dos três, além da atitude descolada que eles passam, como se a vida fosse sempre feliz e boa, o que me deixa muito animada e me faz sorrir sempre que escuto as músicas deles.

É justamente nesse contraste que reside um dos grandes charmes do brb.: a habilidade de criar músicas dançantes mesmo com letras melancólicas sobre relacionamentos. Essa fórmula foi usada novamente em seu mais novo lançamento, o full-album the blueprint, que chegou às plataformas no dia 24 de outubro com 10 faixas.

Da esquerda pra direita: Zie, Marc e Clarence.

Este não é o primeiro trabalho de destaque do trio. O álbum de estreia, relationshit (2020), já foi uma grande entrada, mostrando um som único que rapidamente os colocou como uma força a ser reconhecida no mundo da música. Eles se destacaram em uma cena indie vibrante em Singapura, que tem revelado muitos artistas autênticos de R&B e pop.

Depois veio outros EPs e o álbum we’ve been here before (2024), que até agora era o meu álbum favorito. Apesar de amar esse álbum e todas as suas músicas, o brb. conseguiu se superar esse ano. the blueprint mostra uma fase mais madura e com o estilo deles completamente definido. O álbum anterior tem meu coração, mas este não fica nada para trás, provando a evolução constante do grupo.

Um ponto que merece destaque é a identidade visual desta era. A análise não estaria completa sem mencionar o acerto na estética das capas. Desde os singles que prepararam o terreno até a arte final do álbum, tudo é visualmente coeso e de muito bom gosto. O design e as imagens conseguem traduzir perfeitamente o humor agridoce das faixas, capturando essa vibe de melancolia sofisticada e dançante que the blueprint propõe.

Faixa a faixa: a análise de ‘the blueprint’

É nítido como o trio cresceu desde seus primeiros lançamentos até agora. Musicalmente e no estilo também, apesar deles fazerem músicas pop, eles criaram um estilo que é deles, que é reconhecível.

Começando com “noose”, que fala sobre arriscar tudo por um sentimento ou por alguém, uma busca quase imprudente para se sentir vivo. A letra menciona estar disposto a perder tudo e até a “entrar na minha forca” por essa obsessão, criando aquele contraste clássico do brb. entre uma letra intensa e uma batida que te faz querer dançar.

A música tem uma pegada muito animada misturando a batida eletrônica e dançante com os vocais do Clarence, Marc e Zie. É uma música para dançar e começar o álbum já sorrindo. Gosto muito de como as vozes dos três se encaixam, criando uma ótima harmonia vocal, mesmo cada um cantando uma parte da música diferente. Nas partes que eles cantam juntos, dá pra sentir a potência e a sincronia rítmica deles. A música já havia sido lançada antes em 28 de março.

A segunda música é “dandelions”, que foi lançada em 18 de julho. A música que tem videoclipe e fala sobre um momento romântico e nostálgico, quase como uma memória de um dia de verão. A letra descreve a beleza de um campo e o ato de dar dentes-de-leão para alguém, simbolizando um amor que vê beleza nas coisas simples e “selvagens”, assim como eles. Ela tem uma vibe mais calma que a anterior, mas os vocais do Clarence (que tem aquela textura levemente rasgada, um “drive” no final) contrasta bem com a melodia e os backvocals repetindo as frases no fundo. A música tem uma vibe calma que me lembra andar no parque.

O videoclipe tem um estilo de filmes antigos, com cenas da natureza, como o mar, céu de flores e claro, o dente-de-leão. Mostra um casal, como se o clipe fosse um filme de memórias antigo. Também passa a vibe de passeio no parque com piquenique que a música transmite para mim.

Depois dela seguimos com “munchies”, que tem uma melodia mais forte, com mais bateria e com o Marc, tem um timbre de voz muito bonito e leve, nos vocais na primeira parte da música. A música, que já havia sido lançada antes em 31 de janeiro, começa calma e depois vai ficando mais animada. Já a segunda parte da música é cantada pelo Clarence. Creio que o refrão seja o Zie, porque a voz dele é calma como a do Marc, mas um pouco mais rouca. A letra usa a gíria “munchies” (a famosa “larica”) como metáfora para um desejo intenso e uma atração viciante, mesmo que as coisas estejam ficando “escuras lá fora” e eles “saindo da linha”. “munchies” sem dúvida é uma das minhas músicas favoritas do álbum.

A quarta música do álbum é “forget2rmbr”, lançada em 22 de agosto. É uma música mais calma, que fala sobre uma conexão inesquecível, um amor tão marcante que, mesmo que a outra pessoa “esqueça de lembrar”, ele promete continuar “assombrando” a mente dela como um fantasma. É sobre um laço que mudou o mundo dos dois e que persiste nas memórias, mesmo que eles estejam “presos em um loop”. Para mim é a música mais romântica, falando da melodia, do álbum. Clarence usa inflexões vocais e melismas suaves (aquelas “subidas e descidas” na voz) que dão vontade de dançar coladinho com alguém. Essa música é aquela que precisa ser cantada ao vivo e espero que o brb. lance uma versão acústica dela.

“where did you go?” é a quinta música do álbum, lançada junto com o álbum ontem. Ela tem uma vibe mais dançante e me lembra muito as músicas daqui do Brasil. Talvez não tenha sido intencional, mas tem uma pegada latina na música. E sempre acho que as músicas do brb combinariam muito com funk e reggaeton.

Clarence novamente arrasa nos vocais, e essa textura rasgada que ele aplica nos registros mais graves da voz, é algo muito gostoso de ouvir. A letra é pura sedução, um pedido para a pessoa não parar e mostrar “como é se sentir bem”. A repetição de “onde você foi?” soa como um lamento por essa sensação boa ter sumido. Essa música faria muito sucesso nos bailes e baladas pelo Brasil se fosse conhecida. E se você gostar dela, não deixe de ouvir as músicas anteriores deles, “call it love” e “jelly”.

A próxima música é “take cover!”, lançada anteriormente em 25 de abril. É uma música super animada e dançante, um pouco mais eletrônica, com aquela marca registrada do brb. A letra fala sobre a mudança que a fama traz para um relacionamento. A letra menciona os tempos “antes de tudo mudar” e a pressão de “fazer tempo” para quem se ama. O refrão “se proteja” soa como um aviso de que as coisas estão prestes a explodir, ou talvez um convite para se esconderem “debaixo das cobertas”, fugindo de tudo. É a música mais dançante do álbum.

Depois temos “i pray”, com uma pegada mais animada também. Assim como “where did you go?”, essa música tem a marca do brb.. A letra é literalmente uma oração para conseguir a atenção de alguém. O eu lírico se sente “na reserva”, implorando por “tempo de jogo” e uma chance de entrar no “campo de visão” da pessoa amada. É uma música muito dançante, que novamente, mistura as vozes dos três em uma harmonia perfeita.

A oitava música do álbum e minha favorita é “taste test”. Começa mais calminha, com um arranjo mais minimalista e uma pegada um pouco mais hip hop. O refrão super animado é cantado também pelo Clarence é muito viciante. A letra é provavelmente a mais sensual do álbum, um convite direto usando um “teste de sabor” como metáfora para um encontro íntimo, com frases como “Fale menos / Se você quer um teste de sabor”. A música foi lançada antes em 19 de setembro.

Depois temos “pretty sure you’re fine”, que foi lançada em 28 de fevereiro. A música é perfeita e já ficou no repeat no meu Spotify muitas vezes desde quando lançou. É uma música animada e dançante, que fala sobre o fim de um relacionamento, mas de um jeito sarcástico. É como dizer “eu tenho certeza que você está bem” para alguém que seguiu em frente, com uma ponta de ironia, agradecendo a pessoa por “arranjar alguém novo”. É a música perfeita para dançar enquanto supera um ex, mesmo que a letra tenha uma farpa, como em “que pena que você está morto por dentro”.

Pra finalizar o álbum, temos a nova “swan song”, lançada ontem também. Essa é uma música mais acústica, que começa com o violão e a voz do Clarence e fica mais animada no refrão. O título, “canto do cisne”, já entrega o tema: é uma música sobre desistência e sobre se sentir preso, aceitando melancolicamente um fim, um último ato antes de “dizer adeus”. Uma das minhas favoritas também.

the blueprint consolida o brb. não apenas como um nome importante na cena de Singapura, mas como um dos grupos de indie pop/R&B mais consistentes da atualidade. Eles pegaram a fórmula que os tornou conhecidos e a elevaram, entregando um álbum coeso, maduro e, o mais importante, delicioso de ouvir.

O álbum funciona como uma playlist perfeita que te leva da vontade de dançar sozinho no quarto para uma reflexão agridoce sobre relacionamentos, tudo isso sem perder o ritmo. Se relationshit foi a apresentação e we’ve been here before a consolidação, the blueprint é a afirmação de que o som do brb. é único e veio para ficar.

Com um trabalho tão consistente, o reconhecimento global parece ser o próximo passo lógico. Fica a expectativa para que o brb. não só alcance o público que merece, mas que também inclua o Brasil em uma futura turnê. A energia contagiante que Clarence, Marc e Zie transmitem nas faixas pede para ser vista ao vivo, e é impossível não imaginar como seria cantar todas essas músicas a plenos pulmões ao vivo junto com eles.

Vale a pena também ouvir:

Fotos: @holdonbrb

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Dani Almeida é jornalista (MTB 0095360/SP) e estudou Ciências Sociais na UNIFESP. Atua como editora no Portal Asia ON e na Tune Wav, é colunista no Portal IT Life e redatora.

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