Embaixada da China rebate EUA e defende soberania do Brasil sobre adesão à Nova Rota da Seda

Em nota oficial, China critica comentário de Katherine Tai e afirma que cooperação sino-brasileira é baseada em respeito e benefícios mútuos.

Nesta sexta-feira, 25, a Embaixada da China no Brasil divulgou uma nota oficial em resposta aos comentários feitos pela chefe de Comércio dos EUA, Katherine Tai, sobre a possibilidade de o Brasil aderir à Iniciativa “Cinturão e Rota”. Em um evento em São Paulo, Tai sugeriu cautela ao governo brasileiro, incentivando uma análise criteriosa da proposta chinesa sob uma ótica de “objetividade e gestão de risco” e apontando para a necessidade de reduzir a dependência econômica da China em cadeias de suprimento essenciais.

A declaração chinesa reagiu enfaticamente, afirmando que os comentários de Tai foram “irresponsáveis” e desrespeitosos à soberania brasileira, reiterando que o Brasil é um país independente que não precisa de interferências externas para definir suas parcerias. A nota, assinada pelo porta-voz da embaixada, Li Qi, enfatizou: “O Brasil merece ser respeitado” e destacou que o relacionamento sino-brasileiro é igualitário e mutuamente vantajoso, construído ao longo de 50 anos de diplomacia entre os países.

Tai, representando os interesses comerciais dos EUA, expressou preocupação sobre a adesão do Brasil à Nova Rota da Seda, que poderia ampliar o domínio chinês em setores de alta tecnologia e infraestrutura. Ela mencionou que 80 a 100% da cadeia de suprimentos de energia solar está concentrada na China, o que representaria um “risco significativo”. Tai defendeu que o Brasil considere a resiliência econômica global, e disse que essa discussão será levada à cúpula do G20, onde os EUA pretendem estabelecer o Brasil como fornecedor de minerais críticos, essenciais para tecnologias verdes e energias renováveis.

Na nota oficial, a Embaixada da China defendeu a Iniciativa “Cinturão e Rota” como uma plataforma aberta e inclusiva, com foco no desenvolvimento econômico compartilhado e sustentável. A embaixada destacou que a China é atualmente o maior parceiro comercial do Brasil e representa o principal destino das exportações brasileiras, contribuindo com o superávit na balança comercial do país. Ao contrário dos riscos citados por Tai, a embaixada argumentou que a parceria sino-brasileira reforça a estabilidade econômica do Brasil.

Pequim também reforçou seu compromisso com uma cooperação respeitosa, destacando que o fortalecimento da parceria com o Brasil é baseado na confiança mútua e na escolha soberana do país. Para a China, as relações sino-brasileiras oferecem oportunidades de desenvolvimento para ambas as nações e não exigem que o Brasil rompa parcerias com outras nações.

A decisão do Brasil sobre a possível adesão à Nova Rota da Seda pode ocorrer em novembro, durante a visita do presidente chinês Xi Jinping ao Brasil, coincidente com a cúpula do G20.

Nota oficial da Embaixada da China no Brasil na íntegra:

“Recentemente, uma alta autoridade do governo dos Estados Unidos que esteve no Brasil para participar duma reunião multilateral, emitiu comentários irresponsáveis sobre o debate brasileiro para cooperações relacionadas à Iniciativa “Cinturão e Rota”. Tal ato carece de respeito ao Brasil, um país soberano, e despreza o fato de que a cooperação sino-brasileira é igualitária e mutuamente benéfica. Por este motivo, manifestamos nosso forte descontentamento e veemente oposição.

O Brasil merece ser respeitado. É uma grande nação que defende sempre sua independência e tem grande projeção internacional. O Brasil não precisa que outros venham lhe ditar com quem deve cooperar ou que tipo de parcerias deve conduzir. A China valoriza e respeita o Brasil desde sempre. O fortalecimento da cooperação sino-brasileira está alicerçado na confiança mútua e na convicção no futuro do outro.

Os fatos não deixam margem para distorção. Nos 50 anos desde o estabelecimento das relações diplomáticas entre China e Brasil, a cooperação entre os dois países tem se expandido e aprofundado continuamente, dando importante impulso ao desenvolvimento econômico e à melhoria do bem-estar social de ambos. A China, como maior parceiro comercial, maior mercado de exportação e principal fonte de superávit do Brasil, representa um risco e não uma oportunidade? Essa visão contraria os fatos e a lógica básica.

A Iniciativa “Cinturão e Rota” é uma importante medida para promover uma abertura de alto nível da China ao mundo e ao mesmo tempo, uma plataforma internacional para levar adiante um desenvolvimento inclusivo e universalmente benéfico da globalização econômica. A iniciativa está aberta para países com as mesmas aspirações, em busca duma cooperação de consulta extensiva, contribuição conjunta e resultados compartilhados. Diferentemente de certas pessoas, jamais coagiríamos nossos amigos a abandonarem parceiros específicos para se juntarem a nós.

A China está firmemente comprometida com o respeito mútuo, a cooperação igualitária e o desenvolvimento conjunto com o Brasil, de maneira a trazer maiores benefícios aos povos dos dois países e contribuir com energia positiva para a comunidade internacional. Acreditamos que a cooperação sino-brasileira, ao alcançar níveis mais elevados, chamará maior atenção do mundo. Seria algo positivo se outros países, em resposta, valorizassem ainda mais o Brasil e aumentassem realmente seus investimentos em cooperação com o país.”

Fonte: (1) | Foto: Divulgação

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