Uma viagem pelo Teatro Japonês: Teatro Noh e Teatro Kabuki

Teatro Japonês
Apresentação de Teatro Noh | Foto: Escola Noh de Kanze/Divulgação

O universo do teatro é vasto e diversificado, abrangendo uma gama ampla de expressões culturais que se manifestam por meio de performances dramáticas. Desde os tempos antigos, o teatro tem sido um espelho da sociedade, refletindo suas nuances, desafios e aspirações. Esta forma de arte não se limita a um país ou cultura, mas é uma manifestação global que evolui com o tempo, adotando novas formas e incorporando elementos modernos.

Quando pensamos em teatro, geralmente vêm-nos à mente as grandes peças que estudamos na escola, como as de William Shakespeare, Nelson Rodrigues, Sófocles, ou as famosas novelas brasileiras, como “Avenida Brasil”, “Chocolate com Pimenta”, “Pantanal”, entre muitas outras.

O teatro é uma forma artística que, ao longo dos anos, tem representado temas sociais. A palavra “teatro” tem sua origem no grego “Theátron”, que significa a apresentação de peças dramáticas para um público. É uma maneira de representar uma história com um conjunto de atores, despertando diversos sentimentos e reflexões na plateia sobre o tema abordado.

As primeiras representações artísticas na Ásia remontam ao século 2000 a.C., e ao longo dos anos, as formas de representação se expandiram globalmente, incluindo animes, bandas de Kpop, Doramas, e muito mais.

No contexto teatral, os países do continente asiático representam sua cultura por meio da dança, música, história, vestuário e cenários grandiosos. Nesse sentido, apresentarei os teatros mais conhecidos desse continente, que incluem o teatro Noh e o Kabuki.

 

Teatro Noh

 

Um ator do Teatro Noh/ Foto: Shunsuke Matsui/ Fonte: Flickr

O teatro Noh (), uma expressão artística japonesa, ganhou popularidade especialmente durante o século XIV e mantém sua relevância até hoje. Historicamente, o elenco de Noh era exclusivamente masculino. Os atores são reconhecidos por seus movimentos deliberados e gestos estilizados, adornados por máscaras que personificam distintos personagens da narrativa, como jovens, mulheres aristocratas, guerreiros e demônios. Com raízes em rituais religiosos e temas budistas, as peças de Noh frequentemente exploram dilemas morais e reflexões sobre a vida após a morte.

A palavra “Nō” significa “habilidade” ou “talento” e tem origens nos antigos rituais das religiões budistas e xintoístas, com referências a três danças antigas do século XII:

  • Dengaku: rituais tradicionalmente realizados por grupos em templos e por camponeses na época da colheita.
  • Sarugaku: uma combinação de dança acelerada, recitais humorísticos e acrobacias, também realizada por grupos profissionais.
  • Bugaku: danças mascaradas tradicionais da corte imperial japonesa, introduzidas a partir da China.

O Bugaku se espalhou no Japão, graças aos líderes militares (os Xoguns), tornando-se uma arte oficial nas cerimônias militares do período Edo (1603-1868). O teatro evoluiu a partir dessas origens, ganhando apelo entre a classe alta japonesa. Com uma forte ligação com o budismo Zen, suas apresentações eram inspiradas pela religião.

No período medieval, não era permitido que mulheres atuassem no teatro Noh, talvez devido à forte presença masculina influenciada pelo budismo. Portanto, os papéis masculinos e femininos eram desempenhados por homens. Os principais atores usavam máscaras para representar arquétipos de personagens como jovens mulheres, homens idosos, guerreiros, sacerdotes, espíritos e demônios. As máscaras tinham nomes específicos, como “Ko-omote” para mulheres jovens. No espetáculo, existem dois personagens principais: o protagonista (shite) e o antagonista (waki). O segundo ator pode ter um acompanhante (tsure). Apenas esses três atores usam máscaras.

A influência do teatro Noh ainda é visível hoje, especialmente nas vestimentas dos atores durante as apresentações, que lembram a maneira como a alta classe japonesa se vestia nos séculos passados. A decadência desse teatro começou antes da queda de seus patrocinadores, os Xoguns, em 1867, devido à sua natureza altamente específica e de difícil compreensão. Para apreciá-lo plenamente, as pessoas precisam ter algum conhecimento da cultura japonesa. Ainda hoje, o teatro Noh é encenado em todas as cidades do Japão.

Teatro Kabuki

 

Onnagatas são muito populares no teatro Kabuki / Foto: Kishin Shinoyama/ Fonte: sea of shoes

No início, o teatro Kabuki era representado por mulheres. No entanto, devido à grande sexualização nas apresentações, esse espetáculo acabou sendo banalizado por um tempo no Japão e, posteriormente, foi proibida a participação de mulheres. Começou a ser apresentado por homens mais jovens, mas, infelizmente, enfrentou o mesmo problema de sexualização, o que levou a outra proibição.

Alguns anos depois, o governo autorizou novamente sua apresentação, com a condição de que a sexualização não fosse tão presente em suas danças. Em seu início, era considerado um teatro associado às prostitutas. Hoje em dia, é reconhecido como um dos maiores teatros do país, com representações em locais como o Kabukiza de Tóquio, o Minamiza de Kyoto e o Shochikuza de Osaka.

O Kabuki surgiu a partir do teatro Noh; durante seus intervalos, existiam apresentações mais extravagantes para facilitar as peças mais complicadas. Ao longo do século XVIII, o Kabuki se desenvolveu, em parte devido à competição com o teatro de fantoches Bunraku. Em 1703, Chikamatsu Monzaemon (1653-1724) escreveu algumas peças voltadas para o teatro Kabuki. Hoje, ele é considerado um dos maiores dramaturgos japoneses.

Por volta dessa época, o teatro Kabuki estava perdendo força para o teatro de fantoches

Portanto, seus atores e escritores começaram a adaptar algumas peças desse gênero para o Kabuki, chegando ao ponto de alguns atores imitarem fantoches durante as apresentações.

Na atualidade, o Kabuki permanece essencialmente o mesmo desde os seus primórdios. No Japão, os atores que encenam essa dramaturgia acabam sendo conhecidos no país, e muitos deles se tornam atores renomados na indústria cinematográfica.

As peças Kabuki são divididas em três categorias gerais:

  • Jidai-mono (peças históricas): Devido à censura imposta pelo governo Tokugawa, os atores e dramaturgos acabavam alterando as datas dos acontecimentos apresentados nas peças, como por exemplo a peça “Kanadehon Chushingura” que contava a história dos 47 ronins (samurais sem senhores feudais) de 1701-1703, mas que era dito que teria acontecido no início do período Muromachi (1330-1568).
  • Sewa-mono (peças domésticas): As peças domésticas costumam retratar mais a realidade do que as peças históricas, pois elas representam assassinatos, escândalos ou suicídios que tenham acontecido recentemente. Um grande exemplo foi a peça “Kizewa-mono” (a peça doméstica “crua”) que se tornou popular no início do século XIX. Tais peças ficaram conhecidas por retratar de forma realista as camadas mais baixas da sociedade, mas tendiam ao sensacionalismo, usando a violência e outros temas chocantes em conjunto com elaborados truques de palco para atrair um público cada vez mais entediado.
  • Shosagoto (peças de dança): Peças de dança, como “Kyo-ganoko musume Dojoji” (“A Garota Dançarina no Templo”), geralmente serviam para exibir os talentos dos principais onnagatas (homens que interpretam mulheres no teatro Kabuki). Cerca de metade das peças protagonizadas até hoje foram escritas originalmente para o teatro de fantoches.

O teatro Kabuki é conhecido por ser um teatro de ator, um teatro que serve para ressaltar o talento das estrelas. Sendo assim, a maioria dos espectadores dele vão ao teatro para ver os atores em vez das peças ali apresentadas. Cada ator faz parte de uma família de atores, e cada família tem um estilo específico e abordagem para cada papel. A mais famosa das linhagens do Kabuki era liderada por Ichikawa Danjuro XII (1946-2013).

Um aspecto famoso desse teatro são os onnagata (homens que se vestem de mulheres). Esses atores não estão imitando as mulheres, mas sim representando simbolicamente a essência feminina. Houve tentativas de reintegrar as mulheres no teatro Kabuki moderno, mas sem sucesso. Os onnagatas são uma parte tão integral da tradição do Kabuki que sua substituição por mulheres é extremamente improvável.

 

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Fontes: (1) (2) (3)

Minha paixão pelas artes existe desde a infância, sempre gostei de entender o processo por trás de cada espetáculo. Hoje, sou formada na área, e minha curiosidade em estudar as diferentes formas teatrais só aumenta

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