As vacinas testadas no Vietnã contra a peste suína africana estão próximas de receberem aprovação, segundo autoridades veterinárias globais e dos Estados Unidos nesta quarta-feira (7). Essa notícia traz esperança para o combate efetivo da doença que assola fazendas de suínos em todo o mundo.
A peste suína africana tem causado grandes perturbações no mercado global de carne suína, que movimenta cerca de $250 bilhões anualmente. No pior surto da doença, ocorrido entre 2018 e 2019, aproximadamente metade da população suína da China, o maior produtor mundial, morreu, resultando em perdas estimadas em mais de $100 bilhões.
Após décadas de tentativas frustradas devido à complexidade do vírus, duas vacinas co-desenvolvidas por cientistas dos Estados Unidos estão sendo testadas em projetos-piloto de grande escala por empresas vietnamitas e mostram resultados promissores. Gregorio Torres, chefe do departamento de ciência da Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH), afirmou em entrevista à Reuters que “nunca estivemos tão perto de obter uma vacina que pode funcionar”. Ele destacou que as duas vacinas têm altas chances de sucesso e podem receber autorização para venda em todo o mundo.
Ambas as vacinas já receberam aprovação no Vietnã para uso comercial em projetos-piloto, que foram concluídos recentemente. O próximo passo será obter a autorização em todo o país, algo inédito para uma vacina contra a peste suína africana, e possíveis vendas no exterior.
O secretário de agricultura dos Estados Unidos, Thomas Vilsack, afirmou que há interesse em possíveis compras preventivas nos Estados Unidos, mesmo com o país ainda não tendo sido afetado pelo vírus. “Certamente haverá interesse específico”, disse Vilsack em entrevista à Reuters em abril, referindo-se às possíveis compras das vacinas vietnamitas.
Os testes das vacinas foram realizados no Vietnã devido à constante ameaça da peste suína africana na região, já que não seria possível desenvolvê-las nos Estados Unidos, onde o vírus não está presente.
Desde 2021, a peste suína africana, que não é fatal para humanos, foi relatada em quase 50 países, causando cerca de 1,3 milhão de mortes de suínos, de acordo com o relatório regular da WOAH da semana passada.
Atualmente, não há grandes surtos da doença, mas o banco Rabobank, especializado em agronegócio, alertou em abril que a possível disseminação da doença, especialmente na China, continua sendo um dos principais riscos para a indústria suína global.
Após revisão dos resultados de uma das vacinas, a NAVET-ASFVAC, pelos pesquisadores do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que a co-desenvolveram com a empresa vietnamita NAVETCO (VET.HNO), um porta-voz do USDA afirmou que a vacina demonstrou alto nível de eficácia e não apresentou riscos de segurança nos testes. Foram aprovadas 600.000 doses para venda inicial a criadores de suínos no Vietnã, sendo que as primeiras 40.000 “foram entregues sem nenhum problema de segurança”, afirmou o USDA.
A NAVET-ASFVAC é uma vacina viva atenuada, semelhante às vacinas usadas na imunização infantil em todo o mundo. O uso de vacinas vivas não licenciadas na China em anos anteriores levantou preocupações de que tenham contribuído para o surgimento de novas cepas da peste suína africana.
A segunda vacina testada no Vietnã, a AVAC ASF LIVE, descoberta por pesquisadores dos Estados Unidos e comercializada pela empresa vietnamita AVAC, já foi aplicada em um número maior de suínos do que a NAVET-ASFVAC durante o projeto-piloto, mas o USDA informou que ainda não analisou os dados.
A NAVETCO, a AVAC e o Ministério da Agricultura do Vietnã, responsável pela aprovação de vacinas veterinárias, não fez nenhum comentário até o momento.
Essa notícia traz uma nova perspectiva para a indústria suína mundial, com a possibilidade de controle efetivo da peste suína africana por meio dessas vacinas. A expectativa é de que, uma vez aprovadas, elas possam ser disponibilizadas não apenas no Vietnã, mas também em outros países afetados pela doença, contribuindo para evitar futuros surtos e prejuízos econômicos significativos.