Incêndio em Hong Kong destrói Wang Fuk Court

Incêndio em Hong Kong destrói condomínio, deixando 128 mortos, feridos e desaparecidos enquanto autoridades ampliam investigações
Incêndio em Hong Kong destói Wang Fuk Court

Nesta última quarta-feira (26/11), um incêndio devastador destruiu um condomínio em Hong Kong e deixou ao menos 128 mortos. Este episódio tornou-se o mais letal na cidade desde os anos 1960. As equipes de resgate registraram 79 feridos e localizaram 89 corpos ainda sem identificação. As autoridades informaram que cerca de 200 pessoas permanecem desaparecidas e alertaram para possível aumento no número de vítimas.

O incêndio sem precedentes ocorre em momento delicado para Hong Kong, e autoridades enfrentam pressão para manter estabilidade política e segurança pública. O centro financeiro trabalha para reconstruir sua imagem após protestos, repressão sob a lei de segurança nacional e medidas rígidas contra a Covid, que geraram críticas internacionais. As eleições legislativas estão a poucos dias, e Lee avalia se deve adiá-las, considerando o impacto da tragédia sobre a participação e a ordem pública.

Este é o incêndio mais letal de Hong Kong em pelo menos 63 anos, e autoridades o classificaram como nível cinco, grau máximo de severidade. Quarenta minutos após o primeiro alerta, o incêndio atingiu o nível quatro, e autoridades monitoravam continuamente a evolução das chamas.

Às 18h22, cerca de três horas e meia depois, o nível voltou a subir, e equipes de resgate reforçaram a atuação nas torres afetadas. A imprensa local relatou que era possível ouvir explosões dentro do prédio, e mangueiras de combate a incêndio não alcançavam facilmente os andares superiores.

Local e características

O fogo começou em Wang Fuk Court, no distrito de Tai Po, às 14h51 do horário local e rapidamente se espalhou pelos blocos do conjunto residencial. O condomínio reúne oito torres com 31 andares cada uma, e sete delas sofreram danos extensos. Mui Siu-fung, conselheiro de distrito, informou que os prédios passavam por renovação iniciada antes do incêndio. O conjunto residencial possui 1.984 apartamentos que abrigam cerca de 4.600 moradores.

Tai Po fica no norte de Hong Kong, próximo à cidade continental de Shenzhen. Dados oficiais mostram que quase 40% dos residentes têm 65 anos ou mais, e alguns moradores vivem no local desde a construção do conjunto em 1983. Após o incêndio, pelo menos 500 moradores foram realocados em abrigos temporários, e autoridades providenciam suporte adicional para atendimento emergencial e assistência humanitária imediata.

As torres de Wang Fuk Court estavam cobertas por andaimes de bambu e telas verdes até os telhados, pois passavam por renovação e obras de manutenção. A polícia atribui a rápida propagação das chamas aos materiais usados na reforma, como telas, folhas de plástico e poliestireno, que aceleraram o avanço do fogo.

Combate ao incêndio

O Departamento de Serviços de Incêndio informou que brigadistas concentraram operações nos apartamentos que enviaram mais de duas dezenas de pedidos de ajuda. As equipes não alcançaram vários moradores devido às condições extremas nos corredores e nas escadas. O vice-diretor Derek Armstrong Chan afirmou que as buscas elevaram o total de mortos em 34 nas últimas horas.

As equipes levaram cerca de 24 horas para controlar totalmente o incêndio. A operação mobilizou 2,3 mil socorristas e profissionais de saúde e deixou ao menos 79 feridos. As autoridades confirmaram que doze bombeiros ficaram feridos durante o combate às chamas, e um brigadista morreu enquanto tentava conter o avanço do fogo.

A intensidade do calor impediu a entrada de bombeiros nos edifícios, afirmou Derek Armstrong Chan. No total, 767 bombeiros atuaram no local, com 128 caminhões de combate a incêndio e 57 ambulâncias. Além disso, aproximadamente 400 policiais garantiram segurança e apoio às operações.

Entre os mortos está o bombeiro Ho Wai-ho, 37 anos, que trabalhava há nove anos na estação de Sha Tin e era considerado dedicado e experiente. Ho Wai-ho foi levado ao hospital, mas morreu pouco depois. Ao menos outro bombeiro permanece hospitalizado, e o serviço de bombeiros oferece todo suporte necessário.

Falhas de segurança e investigação

O diretor dos Serviços de Incêndio, Andy Yeung, informou que alguns alarmes falharam durante a tragédia e podem gerar consequências legais. As chamas saltaram entre torres e envolveram sete dos oito prédios do conjunto. A superintendente de polícia Eileen Chung afirmou que a empresa agiu com extrema negligência. O governo determinou inspeções imediatas em conjuntos habitacionais em reformas.

A causa do incêndio permanece desconhecida, mas uma investigação preliminar indicou que a propagação das chamas foi incomum. Materiais de malha, folhas de plástico e poliestireno encontrados na parte externa dos prédios provavelmente contribuíram para a rápida expansão do fogo. As autoridades detiveram três homens, com idades entre 52 e 68 anos, sendo dois diretores de empresa e um consultor de engenharia, sob suspeita de homicídio culposo.

O professor Jiang Liming, da Universidade Politécnica, observou que os blocos são relativamente antigos, construídos nos anos 1980, e as janelas não resistem bem ao fogo. Nos andaimes também costuma haver papelão, entulho e solvente de tinta, e o clima seco contribuiu para acelerar a propagação das chamas. Um especialista declarou que uma série de erros cometidos por diferentes atores resultou na tragédia. O número de mortos já ultrapassa o do incêndio na Grenfell Tower, em Londres, que matou 72 pessoas em 2017.

Prisões e ações legais

A polícia prendeu oito pessoas ligadas à reforma dos edifícios. Três homens foram detidos sob suspeita de homicídio culposo, e a investigação segue em andamento. No entanto, as autoridades afirmaram que a causa do incêndio permanece desconhecida.

A polícia anunciou que usará testes de DNA para agilizar a identificação dos corpos gravemente queimados. O comissário Joe Chow afirmou que algumas áreas do complexo ainda registram temperaturas próximas de 199°C. Bombeiros continuaram a resfriar partes do local com jatos d’água para evitar a reignição das chamas nesta sexta-feira.

A agência anticorrupção de Hong Kong informou que prendeu oito pessoas ligadas à reforma do conjunto. Os detidos incluem subcontratados responsáveis por andaimes, diretores de consultoria de engenharia e gerentes de projeto. A agência realizou buscas em escritórios dos investigados e apreendeu documentos e registros bancários.

Nesta quinta-feira, as autoridades prenderam dois diretores e um consultor da empreiteira responsável pela obra sob suspeita de homicídio culposo e iniciaram novas investigações. Ainda não está claro se os oito presos anunciados incluem os três detidos anteriormente. Mas, investigadores continuam verificando documentos e registros da empresa para confirmar os envolvidos.

Abrigos e atendimento à população

O chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, visitou o local do desastre na quinta-feira. Para reforçar a fiscalização em todos os conjuntos residenciais em reforma. Lee declarou que cada família afetada receberia HK$ 10 mil em auxílio. Ademais, prometeu eliminar gradualmente o uso de andaimes de bambu, substituindo-os por estruturas metálicas seguras.

Vários abrigos de emergência foram abertos para receber moradores evacuados, segundo o governo, e equipes orientaram a população a se deslocar para locais seguros imediatamente. O jornal South China Morning Post informou que o abrigo do Centro Esportivo de Tung Cheong Street estava lotado, e moradores precisaram buscar outros locais disponíveis na cidade.

Outro abrigo, o Salão Comunitário de Kwong Fuk, próximo ao conjunto habitacional, foi considerado inseguro, portanto, os evacuados foram levados para um local mais distante e seguro. Gemini Cheng, repórter da BBC China, registrou a chegada de moradores idosos, alguns com bengalas ou cadeiras de rodas, recebendo, assim também, assistência para acessar abrigos e serviços essenciais.

Ao menos 900 pessoas estão alojadas nesses locais temporários, conforme informou a agência AFP, citando o chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, em pronunciamento oficial. Seis escolas em Tai Po permaneceram fechadas na quinta-feira, 27/11, e, além disso, o Departamento de Educação listou as unidades afetadas em seu site a fim de orientar pais e alunos.

Um centro de apoio e acompanhamento de emergência está em operação para gerir o impacto do incêndio, disse o secretário de Segurança Tang Ping-keung em comunicado. A polícia de Hong Kong abriu uma linha direta para que o público consulte informações sobre possíveis vítimas, e equipes auxiliam na comunicação com familiares e moradores.

Impactos econômicos e culturais

Eventos em toda a cidade foram cancelados, e, além disso, a Oxfam suspendeu sua tradicional corrida beneficente Trailwalker, afetando, assim, a agenda cultural e social da população. A Disneylândia cancelou a pré-estreia especial de Zootopia 2, bem como, o festival Arts in the Park, promovido pelo Standard Chartered, também não ocorreu, gerando, por conseguinte, perdas para empresas locais. Uma corrida de 10 quilômetros organizada pelo Hong Kong Marathon Pro e Pegasus Athletics Club foi suspensa, e, portanto, participantes receberam avisos sobre mudanças na programação de última hora.

Embora o impacto econômico mais amplo deva ser limitado, a tragédia expõe problemas políticos profundos, segundo Gary Ng, economista sênior do Natixis, que analisou os riscos urbanos. Apesar disso, o MAMA Awards 2025, premiação que elege os melhores do ano no K-pop, manteve sua programação normal nos dias 28 e 29.

Fonte (1) (2). Foto destaque: People

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Socióloga e publicitária em formação, pela UFF (Universidade Federal Fluminense) e pela UNOPAR, respectivamente. Atualmente, atuo como redatora do Portal Asia On e do It Life, além de trabalhar como social media e fazer cobertura de shows e eventos.

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