Quem é Lee Jae-myung, o novo presidente da Coreia do Sul

O recém-eleito presidente da Coreia do Sul, Lee Jae-myung, venceu as eleições com um feito histórico: 17,29 milhões de votos, o maior número absoluto já registrado em uma eleição presidencial no país. Apesar disso, sua vitória não foi acompanhada de uma maioria absoluta, revelando um cenário político fragmentado e um eleitorado dividido entre apoio convicto e desconfiança cautelosa.

Candidato do Partido Democrático, Lee venceu com folga em regiões estratégicas como Seul, Incheon, Gyeonggi, Daejeon, Jeju, além das tradicionais áreas progressistas do sudoeste, como as províncias de Jeolla e a cidade de Gwangju. Também liderou entre eleitores nas faixas dos 40 e 50 anos, além de obter ampla vantagem entre as mulheres, consolidando uma base eleitoral sólida frente ao conservador Kim Moon-soo.

Lee Jae-myung: carisma e controvérsia

Lee Jae-myung é conhecido por seu estilo confrontador, admirado por muitos, criticado por outros. Em um episódio recente que ganhou repercussão internacional, ele se destacou ao liderar fisicamente uma resistência contra a instauração da lei marcial. Durante uma transmissão ao vivo, saltou uma cerca da Assembleia Nacional e ajudou a forçar a entrada de parlamentares no plenário, enfrentando soldados que bloqueavam o acesso. A ação resultou no bloqueio da medida e gerou um vídeo viral com milhões de visualizações, reforçando sua imagem de político aguerrido, embora também tenha alimentado críticas quanto à teatralidade e falta de moderação.

Gwangju e a memória do Massacre de 1980

A vitória esmagadora de Lee em Gwangju, com mais de 84% dos votos, carrega um forte simbolismo histórico. A cidade foi palco do emblemático Massacre de Gwangju, em maio de 1980, quando civis e estudantes foram brutalmente reprimidos por protestarem contra o regime militar e a imposição da lei marcial. Centenas de pessoas morreram, e o episódio se tornou um marco da luta pela democracia na Coreia do Sul.

Essa memória continua viva e pode ser compreendida, por exemplo, através do drama “Youth of May” (2021), que retrata a repressão estatal sobre vidas comuns durante o levante. Para muitos eleitores da região, o apoio a Lee representa a continuidade simbólica dessa resistência democrática.

O desafio da governabilidade na Coreia do Sul

Agora à frente da presidência, Lee Jae-myung terá de equilibrar sua imagem de guerreiro político com a necessidade de construir consensos. A Coreia do Sul atravessa um momento delicado, com tensões geopolíticas, desafios econômicos e uma juventude cada vez mais crítica. Mais do que a continuidade de um projeto progressista, o que está em jogo é a capacidade de Lee de transformar confronto em governabilidade.

Fonte (1)/Foto: Lee Jeongwoo/Grupo de Fotógrafos do Governo

Jornalista apaixonado pela cultura coreana, acompanhando desde 2019 o universo dos comebacks, kdramas e a culinária do país. O que começou como curiosidade se transformou do dia a dia e uma terapia antiestresse.

Veja também!