Várias mortes e centenas de milhares de deslocados marcaram o ressurgimento do conflito territorial entre Tailândia e Camboja, evidenciando os riscos do nacionalismo extremo.
Durante décadas, a fronteira que separa os países tornou-se palco de confrontos repetidos. A disputa surge de uma demarcação imprecisa deixada pela França colonial, que alimenta reivindicações territoriais concorrentes. Além disso, templos do Império Khmer, como Preah Vihear, adicionam uma dimensão identitária que intensifica as tensões.
Diplomacia efêmera e interesses políticos
Em outubro, Donald Trump declarou ter encerrado a mais recente escalada, ignorando o papel estratégico da Malásia, que preside rotativamente a ASEAN em 2025, e a influência discreta da China. O acordo de paz assinado em 26 de outubro, com sua presença, mostrou-se efêmero, pois deixou questões cruciais sem solução.
Ambos os países possuíam incentivos para intensificar o conflito. No Camboja, enfatizar a herança Khmer desviava atenção da transição de poder de Hun Sen para Hun Manet. A divulgação de conversas diplomáticas com a Tailândia evidenciou a disposição cambojana em desestabilizar o vizinho, contribuindo para a queda da primeira-ministra Paetongtarn Shinawatra.
Nacionalismo e política tailandesa
O sucessor, primeiro-ministro Anutin Charnvirakul, também manteve tensões deliberadamente. A questão unia partidos políticos em torno da bandeira nacional, às vésperas das eleições parlamentares de fevereiro de 2026. Essa manipulação do nacionalismo ofuscou a necessidade de combater fraudes cibernéticas e tráfico humano nas regiões fronteiriças, especialmente junto a Mianmar.
Limitações do multilateralismo e arbitragem internacional
O conflito territorial evidencia as fragilidades do multilateralismo da ASEAN e a impotência da diplomacia tradicional. A Corte Internacional de Justiça decidiu a favor da soberania cambojana sobre Preah Vihear em 1962, reafirmando a decisão em 2013.
Contudo, o retorno de Trump desacreditou publicamente a Corte, reduzindo a relevância de fóruns de arbitragem essenciais. A ausência desses mecanismos aumenta o risco de que o conflito territorial se torne insolúvel, comprometendo a estabilidade regional.
Assim, o conflito territorial entre Tailândia e Camboja demonstra como disputas antigas podem evoluir rapidamente para crises humanitárias e desafios geopolíticos complexos.
Fonte (1)
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