Coreia do Sul busca se tornar um dos maiores vendedores de armas do mundo

Acordo bilionário com a Polônia é parte da estratégia de expansão da indústria de defesa sul-coreana
Fábrica da Hanwha Aerospace em Changwon, Coreia do Sul, em 16 de março de 2023. | Foto: REUTERS/Kim Hong-Ji

Impulsionada por um acordo histórico de US$ 13,7 bilhões (aproximadamente R$ 68,774 bilhões) com a Polônia, a Coreia do Sul está traçando uma rota rumo ao topo da indústria global de venda de armas. A parceria militar-industrial entre as duas nações visa alimentar a demanda por armamentos na Europa e solidificar a posição sul-coreana como um dos principais fornecedores de armas do mundo.

De acordo com o Ministério da Defesa sul-coreano, as vendas de armas do país aumentaram para mais de US$ 17 bilhões (aproximadamente R$ 85,34 bilhões) em 2022, em comparação com os US$ 7,25 bilhões (aproximadamente R$ 36,445 bilhões) do ano anterior. Esse crescimento expressivo ocorreu enquanto países ocidentais corriam para armar a Ucrânia e as tensões aumentavam em outras regiões, como a Península Coreana e o Mar do Sul da China.

O acordo com a Polônia, membro-chave da OTAN, envolveu a venda de centenas de lançadores de foguetes Chunmoo, tanques K2, obuseiros autopropulsados K9 e aeronaves de combate FA-50. O valor e a quantidade de armamentos envolvidos destacaram o acordo, mesmo entre os maiores players do setor de defesa global.

Autoridades sul-coreanas e polonesas afirmam que essa parceria abrirá caminho para a conquista do mercado de armas europeu, mesmo além da guerra na Ucrânia. A Coreia do Sul se destaca ao oferecer armamentos de alta qualidade de forma mais rápida do que outros países, enquanto a Polônia contribui com capacidade de manufatura e uma rede de vendas na Europa.

Segundo executivos de empresas e autoridades governamentais envolvidos diretamente no acordo, essa parceria estabelece um modelo para a Coreia do Sul expandir sua influência e atingir sua ambição de ser um dos maiores fornecedores de armas do mundo.

Oh Kyeahwan, diretor da Hanwha Aerospace e envolvido no acordo com a Polônia, destaca:

“A República Tcheca, Romênia, Eslováquia, Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia e outros países estavam pensando em comprar produtos de defesa apenas na Europa, mas agora é mais conhecido que é possível comprar a um preço baixo e receber rapidamente de empresas sul-coreanas”.

As empresas sul-coreanas não divulgam os preços unitários de suas armas, que geralmente são vendidas com veículos de apoio e peças de reposição.

A Hanwha Aerospace já possui uma participação de 55% no mercado global de obuseiros, número que deve subir para cerca de 68% com o acordo com a Polônia, segundo pesquisas da NH Research & Securities.

O acordo estabeleceu consórcios de empresas sul-coreanas e polonesas para a produção dos armamentos, manutenção das aeronaves de combate e fornecimento para outros países europeus no futuro. A expectativa é que 500 dos 820 tanques e 300 dos 672 obuseiros sejam fabricados em fábricas polonesas a partir de 2026.

Lukasz Komorek, diretor do Escritório de Projetos de Exportação do Grupo Estatal de Armamentos da Polônia (PGZ), afirma que isso incluirá a produção licenciada de armamentos sul-coreanos na Polônia. Ele ressalta que os planos envolvem uma ampla cooperação entre os dois países, visando conquistar os mercados europeus.

Sash Tusa, analista de defesa e aeroespacial da empresa britânica Agency Partners, alerta em entrevista a Reuters que, embora ambos os países tenham indústrias de defesa bem estabelecidas, os planos de longo prazo podem enfrentar desafios. Ele destaca que os ventos políticos podem mudar, reduzindo a demanda por armas como obuseiros e tanques.

Mesmo se a produção e a demanda se mantiverem, os países europeus podem querer estabelecer seus próprios acordos com a Coreia do Sul, seguindo o exemplo da Polônia, com acordos de coprodução que poderiam criar empregos e estimular a indústria.

Enquanto isso, na fábrica da Hanwha Aerospace localizada na costa sul da Coreia do Sul, robôs automatizados e mais de 150 trabalhadores produzem os tanques K9 de 47 toneladas que serão enviados para a Polônia. A empresa espera aumentar a produção e contratar cerca de 50 funcionários adicionais.

A oferta sul-coreana de fornecer armas mais rapidamente do que qualquer concorrente foi um fator-chave para a Polônia. A primeira remessa de tanques K2 e K9 chegou à Polônia em dezembro, poucos meses após a assinatura do acordo, e desde então mais tanques e obuseiros foram entregues.

Em contraste, a Alemanha, outro grande fabricante de armas, ainda não entregou nenhum dos 44 novos tanques Leopard que a Hungria encomendou em 2018, destaca em entrevista a Reuters, Oskar Pietrewicz, analista sênior do Instituto Polonês de Assuntos Internacionais.

A indústria de defesa sul-coreana ressalta que a capacidade de entrega rápida será um ponto forte para futuros clientes.

A estreita relação entre o setor militar e a indústria de armas sul-coreana permite que as encomendas domésticas sejam reorganizadas para acomodar a produção para exportação, aumentando a capacidade de produção no país. A pressão constante causada pelas tensões com a Coreia do Norte resultou no desenvolvimento e aprimoramento dos armamentos sul-coreanos em situações de alta pressão, afirma Cho Woorae, vice-presidente de negócios globais e estratégia da Korea Aerospace Industries.

A Coreia do Sul já havia promovido seus armamentos para a Polônia antes da guerra, mas a invasão da Ucrânia aumentou o interesse polonês, destaca Kim Hyoung Cheol, vice-diretor da Administração do Programa de Aquisição de Defesa (DAPA) sul-coreana.

Os armamentos sul-coreanos são projetados para enfrentar ameaças semelhantes às que a Polônia enfrenta. As tecnologias de comunicação foram ajustadas para operar em um ambiente altamente interferido pelos russos, afirma Kim.

O acordo entre Coreia do Sul e Polônia é um marco na busca sul-coreana por uma posição de destaque no mercado global de venda de armas. Com sua capacidade de entrega rápida, qualidade e parcerias estratégicas, a Coreia do Sul está estabelecendo bases sólidas para se tornar um dos principais fornecedores de armas do mundo, enquanto expande sua influência geopolítica.

Fonte: (1)

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