Movimento ARMY: A influência do fandom do BTS nas eleições presidenciais argentinas

Nos últimos anos, os fãs de BTS, conhecidos como ARMYs, têm demonstrado não apenas sua paixão pela música, mas também um engajamento político e social que agora se manifesta nas eleições argentinas. Na semana que antecede o segundo turno das eleições presidenciais, uma tempestade digital foi desencadeada pelo ARMY em resposta a comentários feitos pela candidata a vice-presidente na chapa de Javier Milei, Victoria Villarruel, que foram percebidos como desrespeitosos e discriminatórios pelos fãs do grupo.

Em 2020, Villarruel fez comentários sobre o BTS, respondendo a um tweet sugerindo que o nome do grupo soava como uma doença sexualmente transmissível. Esses comentários, que ressurgiram recentemente, provocaram uma forte reação da comunidade de fãs na Argentina, que emitiu um comunicado condenando as palavras de Villarruel e pedindo aos fãs que denunciassem tais declarações​​.

 

 

Captura de tela (kalipolis)

“A banda BTS tem o nome de uma organização de saúde”, diz o usuário do antigo Twitter.

“Ou de doença sexualmente transmissível”, respondeu a atual candidata.

O impacto dos ARMYs na Argentina é amplificado pela sua habilidade de unir forças e coordenar ações em resposta a figuras públicas que desrespeitam o que eles defendem. Um exemplo de sua influência ocorreu quando Donald Trump criticou o grupo, e em seguida, os fãs reservaram massivamente assentos para um de seus discursos de campanha e não compareceram, deixando o espaço vazio​​. Este ato demonstra a capacidade de mobilização dos ARMYs e como eles podem afetar a narrativa pública e potencialmente os resultados eleitorais.

Além disso, os ARMYs não limitaram suas críticas apenas a Villarruel, mas expandiram a busca por outros comentários desrespeitosos feitos por ela, inclusive contra artistas argentinos, o que contribui para aprofundar a crise de imagem da candidata​​. A resposta de Villarruel à controvérsia foi relativamente displicente, desculpando-se por uma “avalanche de notificações” resultantes de “conversas engraçadas de muitos anos atrás”​​.

A reação não se limitou a postagens online. O fandom do BTS na Argentina, mobilizado e consciente, utilizou estrategicamente as redes sociais para ampliar sua voz, recebendo apoio internacional e chamando a atenção para as posições políticas de Milei e Villarruel, conhecidos por suas posturas políticas extremistas e declarações provocativas, que incluem a oposição ao aborto legal e a críticas ao feminismo, além de comentários controversos sobre a ditadura militar argentina.

Eles encontram-se agora diante de uma população jovem e globalmente conectada, disposta a desafiar suas políticas conservadoras. Isso colocou em destaque o poder da juventude e a influência das comunidades digitais na política argentina, uma realidade que se reflete nas estatísticas de votação e pode ser decisiva no segundo turno das eleições.

Mais além, a interação entre o fandom do BTS e a política argentina ressalta a importância do voto jovem no país. Um levantamento de outubro revelou que quase 27% do apoio a Milei provinha de eleitores entre 17 e 25 anos, um contraste marcante com os menos de 9% que apoiavam Sergio Massa, o ministro da economia de centro-esquerda e oponente de Milei no segundo turno. Com indivíduos com menos de 29 anos representando 27% do eleitorado, o impacto potencial do ARMY é inegável, evidenciando como o engajamento político jovem pode ser catalisado e expresso através de plataformas digitais e fenômenos culturais como o K-pop.

A convergência entre cultura pop e engajamento político manifestada pelo ARMY argentino ilustra uma nova era de ativismo digital, onde as fronteiras entre entretenimento e política são cada vez mais tênues. Este ativismo reflete uma tendência global de fãs de K-pop que estão usando sua voz coletiva para impactar questões sociais e políticas, reconhecendo a importância de suas ações e a influência que podem exercer, especialmente em um país onde o K-pop se tornou um fenômeno cultural significativo​​.

A resposta a esses eventos mostra uma faceta importante do ativismo moderno, onde comunidades online, como os fãs de K-pop, não apenas defendem seus ídolos, mas também princípios e valores mais amplos, desafiando a retórica e as posições de figuras políticas e potencialmente influenciando o curso das eleições em um país.

Fontes: (1) (2) (3) | Foto: Divulgação

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