A literatura sul-coreana tem ganhado cada vez mais destaque no cenário internacional, não apenas com a recente conquista do Prêmio Nobel por Han Kang, mas também com a chegada de obras de autores coreanos às prateleiras brasileiras e sua participação em eventos literários no país. Esse movimento de reconhecimento e valorização vem acompanhando a expansão global da cultura coreana, que tem inspirado não só leitores, mas também escritores ao redor do mundo. No Brasil, nomes como Tatielle Katluryn vêm se destacando por incorporar elementos da cultura coreana em suas narrativas, aproximando ainda mais o público nacional desse universo por meio da literatura.
Em entrevista, a autora compartilhou detalhes sobre seu processo criativo, sua conexão com a Coreia do Sul e como a cultura do país influencia diretamente suas histórias. Apaixonada pelo universo dos k-dramas desde 2019, Tatielle encontrou na literatura uma forma de traduzir esse encantamento em narrativas profundas, sensíveis e repletas de esperança.
“Eu sou apaixonada pela Coreia do Sul desde 2019… Para mim, é quase inevitável não escrever mais um livro que tem cenas ambientadas nesse país“, conta. Essa afinidade não se limita à inspiração estética ou narrativa. A autora destaca o compromisso com a pesquisa e com o respeito à cultura local, algo que se intensificou após sua visita ao país: “Estar na Coreia do Sul foi uma das experiências mais sonhadas e espetaculares da minha vida… Ver tudo ao vivo me deixou encantada e me deu certeza que meus próximos livros serão ainda mais ricos“.
Tatielle já havia se destacado com O horizonte mora em um dia cinza, romance que emocionou leitores ao tratar com delicadeza o tema do luto. Inspirado em V, do grupo BTS, o livro foi relançado pela Editora Mundo Cristão e alcançou um público ainda maior. “Todos os dias eu recebo testemunhos de leitores que foram tocados pela história… Esse livro, para eles, é mais do que um romance — é um recomeço“, afirma.
Em Se o dia não estiver sorrindo, sua segunda obra ambientada em parte na Coreia, Tatielle amplia o olhar e inclui também cenas na Califórnia, abordando a vivência de imigrantes coreanos nos Estados Unidos. A autora, formada em Psicologia, destaca a importância de trabalhar com temas como autoestima, bullying, fé e relações familiares difíceis. “A principal mensagem que quero passar aos leitores é que, apesar dos tantos problemas e dificuldades que enfrentamos nesta vida, ainda há esperança“.
A construção emocional dos protagonistas Mackenzie Jones e Baek Fletcher exigiu um processo longo e cuidadoso. “Foi o livro que mais demorei para escrever… Eu tinha que desenvolver bem o passado e o presente dos dois para que fossem quase como pessoas de verdade“, explica. O resultado é uma história que retrata não apenas o reencontro de dois jovens com cicatrizes profundas, mas também a possibilidade de cura por meio do amor, da fé e do perdão.
Além da literatura, Tatielle também se inspira na cultura coreana contemporânea, incluindo a gastronomia, os hábitos cotidianos e a estética dos dramas. “Eu sempre fico encantada com o quanto a comida é um conforto para muitos coreanos, não apenas uma refeição… E tudo isso se traduz também nos sentimentos das pessoas“, destaca.
Entre os autores e obras coreanas que a marcaram, ela cita Bem-vindos à livraria Hyunam-dong, de Hwang Bo-Reum, e A inconveniente loja de conveniência, de Kim Ho-Yeon. “São narrativas que me impactaram, mais sensíveis, que nos fazem refletir sobre a vida“, diz. No mundo dos k-dramas, elogia os roteiros de Pousando no Amor, de Park Ji-eun, e Vinte e Cinco, Vinte e Um, de Kwon Do-eun.
Tatielle também deixa um conselho para escritores estrangeiros que desejam ambientar histórias na Coreia do Sul com respeito: “Antes de sentar para escrever, passe mais tempo estudando a cultura do que propriamente escrevendo… Não podemos basear a nossa escrita apenas nos k-dramas que assistimos ou nas músicas que ouvimos“.
Ao fim da conversa, a autora resume a essência de sua produção literária: “Acredito que o tipo de história que eu escrevo é uma mensagem de esperança para quem um dia já pensou que para ele não tinha mais jeito… Meus livros não são simplesmente romances com um protagonista coreano e uma brasileira, mas são histórias profundas e tão reais que tocam pessoas do mundo real e levam esperança aonde meus pés nunca chegariam“.
[…] seus medos e frustrações explodiram quando Baek
Fletcher sumiu do mapa. Ele era o único com quem conseguia
ser ela mesma e desabafar quando não estava bem. Porque morria
de vergonha só de pensar em contar tais problemas para seus pais.
Eles já tinham coisas demais para se preocupar.
(Se o dia não estiver sorrindo, p. 245)
Ficha técnica:
Título: Se o dia não estiver sorrindo
Autora: Tatielle Katluryn
Editora: Mundo Cristão
ISBN: 978-65-5988-413-1
Páginas: 288
Formato: 14×21 cm
Foto: Assessoria de Imprensa
Jornalista apaixonado pela cultura coreana, acompanhando desde 2019 o universo dos comebacks, kdramas e a culinária do país. O que começou como curiosidade se transformou do dia a dia e uma terapia antiestresse.
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